Pichadores protestam contra morte de colegas por PMs em SP



         Pichadores realizam, na noite desta quinta-feira (7), um protesto no Centro de São Paulo conta a morte de Alex Dalla Vecchia Costa, de 32 anos, e Ailton dos Santos, de 33. A dupla foi morta por PMs na semana passada dentro de um prédio residencial na Mooca. O grupo se reuniu na Galeria Olido e caminhou até a sede a Secretaria da Segurança Pública (SSP). Cerca de 60 pessoas seguiram pelo Viaduto do Chá e pela Rua Líbero Badaró, onde fica a SSP. Lá, acenderam velas na escada do  prédio. O ato foi pacífico.
         Também nesta quinta, quatro policiais tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça por suspeita de envolvimento nas mortes dos pichadores. O pedido foi feito pela Corregedoria da Polícia Militar. Os policiais alegam legítima defesa, que a dupla estava armada e tinha intenção de roubar. Eles alegam que um PM foi baleado no braço. Parentes e amigos negam posse de arma e ressaltam que a dupla invadiu o prédio para pichar.
            Os quatro policiais são um 1º tenente de 28 anos que trabalhava há sete anos e meio na PM;  um 1º sargento de 45 anos, há 27 anos na corporação; um cabo de 45 anos, 20 deles na polícia e outro cabo de 38 anos e mais de 13 anos de carreira. Cada um deles já tinha duas mortes anteriores a este incidente investigadas pela corregedoria.

             O tenente-coronel Marcelino Fernandes, chefe do departamento técnico da Corregedoria da PM, afirmou que há diversas evidências que fazem cair por terra a versão dos policiais de que houve tiroteio.

"Verificou-se, inclusive com testemunhas e outras câmeras do local, que esses mesmos jovens já tinham pichado um condomínio a 300 metros dali, sem a característica de estarem armados.”
            A investigação da Corregedoria destacou que houve um intervalo de tempo entre a entrada dos policiais no prédio e a comunicação do suposto tiroteio ao comando de policiamento. “Essa discrepância dá em torno de 48 minutos, o que os policiais não souberam explicar e isso está tudo filmado pelo próprio condomínio", explicou Fernandes.
           O corregedor também afirma que os policiais não souberam explicar o relato de testemunhas que apontam que houve tiros com intervalo de dez minutos. "Em nenhum momento os policiais afirmam dois tiroteios no local", disse o corregedor.

           O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que também investiga o caso, pediu nesta quarta os nomes de todos os policiais que foram ao prédio na Mooca. “São os horários que não batem e o fato de a mochila ter sido apresentada posteriormente. É tudo isso que a gente está apurando”, disse a diretora do DHPP, a delegada Elisabete Sato.
Investigação no DHPP
             Segundo a delegada Jamila Jorge Ferrari, do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), seis dos 11 policiais que estiveram no prédio são investigados. “Inicialmente estão sendo investigados os seis policiais porque são eles que aparecem no boletim como os que atenderam a ocorrência”, justificou a delegada.
             O caso foi registrado como "morte decorrente de intervenção policial e roubo". De acordo com o boletim de ocorrência, por volta das 18h, Alex e Ailton invadiram o Edifício Windsor, Avenida Paes de Barros, na Mooca, para roubar. A construção tem 19 andares, com a cobertura.
             Os dois suspeitos entraram no condomínio após o porteiro confundi-los com moradores. O zelador questionou a presença deles, que afirmaram estar fazendo a manutenção dos elevadores. Desconfiado, o funcionário foi à portaria, onde acionou a Polícia Militar. Depois, usou um pé de cabra e uma cadeira para travar um dos elevadores.

             Policiais militares foram até o local para atender uma ocorrência de roubo. Imagens de câmeras de segurança do prédio gravaram o momento em que os PMs chegaram 25 minutos depois da entrada dos pichadores. Cinco policiais entraram primeiro. Onze minutos depois, mais seis policiais apareceram.

           Enquanto isso, os amigos tiravam selfies deles no elevador até descerem no 17º andar. Na versão dada pelos policiais, quatro PMs trocaram tiros com os pichadores num apartamento no 18º andar. Ao perceberem os agentes, a dupla, que estava armada começou a atirar neles. Na cozinha, Alex usava um revólver calibre 38, e no quarto, Ailton portava pistola 380. Um tiro atingiu o braço de um PM.
          Os policiais afirmaram que, para se proteger, revidaram os tiros, baleando os suspeitos, que morreram. O DHPP aguarda laudos técnicos do Instituto Médico Legal (IML) e do Instituto de Criminalística (IC) para saber quantos disparos foram feitos e quantas perfurações as vítimas sofreram. A maior parte dos ferimentos foi no tórax.

          O entra e sai dos policiais militares no prédio foi constante durante pelo menos uma hora. Horas depois é que o caso foi levado ao conhecimento do 56º Distrito Policial, na Vila Alpina. Como a ocorrência envolvia morte decorrente de ação policial, o DHPP assumiu as investigações.

          Peritos apuram se os mortos foram baleados pelas costas. Para isso, estudam os orifícios de saída e entrada das balas.

          Quatro pistolas .40, armas usadas pelos policiais, foram apreendidas para análise de balística na Superintendência da Polícia Técnico-Científica. A pistola 380 e o revólver 38, relacionados como sendo de Alex e Ailton, também foram levados para testes. Os resultados ainda não ficaram prontos.

           Procurada pela equipe de reportagem para comentar o assunto, a assessoria de imprensa da PM informou nesta manhã que quatro policiais trocaram tiros com os suspeitos no prédio. Ainda, segundo a corporação, outros policiais que foram ao local podem ter participado da ocorrência preservando o local para a perícia.
Família diz que foi execução
            A tese de que os pichadores foram executados sem confronto também é investigada pelo DHPP. A hipótese ganha coro nos depoimentos que os parentes e amigos das vítimas deram no departamento. Eles negaram que Alex e Ailton, que surgiram como pichadores em Santo André, no ABC, tenham ido armados ao Windsor para roubar. Disseram que os amigos entraram desarmados no prédio para pichar, mas acabaram assassinados por policiais militares.

"Atirou na polícia com que arma? Ele não tinha revólver", afirmou Eliete Prestes dos Santos, 28, mulher de Ailton, que contesta a versão da PM, de que o marido e o amigo dele tinham armas e pretendiam assaltar o condomínio.

         Eliete esteve na terça-feira (5) no DHPP para falar com os policiais que investigam o caso. Ela afirma ainda ter encontrado itens na mochila de Aílton que não pertenciam a ele, como um fone de ouvido.

         No Facebook, uma prima de Alex postou que o parente "nunca teve uma arma, nunca matou, nem feriu ninguém, todo mundo sabe e é evidente, que o que ele fazia era pichar".

         Membros do grupo de pichadores intitulado RGS disseram que, antes da ação policial no edifício, Alex e Ailton tinham mandado mensagens pelo WhatsApp informando que estavam indo pichar o prédio. Investigadores têm gravações de celular de Alex convidando amigos para pichar o prédio.

        As selfies tiradas pelos amigos no elevador do Windsor, antes de serem mortos, é considerada prática recorrente entre pichadores após conseguirem invadir um local.

        Alex e Aílton eram pichadores há mais de 15 anos e faziam parte do grupo conhecido como Jets, que nasceu no ABC, no fim dos anos 1990. A marca dos Jets é fazer escaladas ou invadir prédios para deixar a sua marca nas alturas. Quanto mais alto o prédio, maior o desafio. Pichação pode ser considerado vandalismo ou crime ambiental. A pena para quem for pego é de até um ano de prisão, mas geralmente a punição é convertida em multa.



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